quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O USO INDEVIDO DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS POR FACÇÕES CRIMINOSAS NA PARAÍBA

imagem da internet: Nossa Senhora de Fátima
Quando estive Conselheira de Direitos Humanos do Estado da Paraíba percorri alguns presídios paraibanos e aprendi algumas coisas sobre as duas maiores facções paraibanas envolvidas com o narcotráfico. Tanto a facção Okaida como a facção Estados Unidos utilizam indevidamente símbolos religiosos católicos como o terço e a imagem de São Jorge. Não concordo com esse tipo de perversão. Militantes de Direitos Humanos devem defender a dignidade existente e inerente a cada ser humano, sem no entanto concordar com práticas que de longe tem a ver com o exercício da liberdade de crença e religiosa, quando começa a ferir o sentimento religioso de outras pessoas e grupos. A Okaida e os EUA utilizam aqueles terços de plásticos para se identificarem, tendo certa feita uma colega de CEDHPB pedido para que eu questionasse um diretor de um dos presídios da capital paraibana sobre a proibição de terços na unidade e ainda ventilou que tal decisão seria baseada no fato do referido diretor ser evangélico. Desconfiei que a razão não fosse essa porque na mesma unidade podemos ver o retrato da imagem de Nossa Senhora, por isso perguntei qual seria o verdadeiro motivo e me foi explicado que as facções se identificavam pelas cores dos terços de plástico, o que causava transtornos internos. É comum vermos jovens andando com seus cabelos oxigenados, com suas sobrancelhas em 3 pedaços raspadas, seus terços coloridos e com tatuagens de Nossa Senhora ou ainda com tatuagens de um tipo específico de desenho de terço nas praias de Tambaú e Cabo Branco aos finais de semana. Os mesmos grupos que pulam as roletas de ônibus e promovem brigas e outras algazarras nos ônibus da capital. Hoje em dia está impossível ir às praias de Tambaú e Cabo Branco aos finais de semana de ônibus. Ainda, como andam em grupos, acabam promovendo assaltos e arrastões. Há ainda. como no caso da facção Okaida que ainda se serve do medalhão de São Jorge naquelas peças de corrente prateada, como forma de identificação da facção a qual pertence. Logicamente não queremos comparar o que acontece com a perversão de símbolos religiosos para identificação de facções criminosas, mas não podemos nos esquecer daquele que perverteu um dos maiores símbolos esotéricos da Índia antiga: Adolph Hitler. Ele ao se servir da cruz suástica, perverteu o simbolismo dado pelos hindus e outros povos místicos. Enquanto a suástica hindu segue o sentido anti horário, a cruz suástica de Hitler segue o sentido horário sempre com os braços eretos, porque há suásticas utilizadas por místicos em que os braços apresentam outras formas. Uma aberração a utilização de símbolos religiosos, porque infelizmente hoje, podemos nos deparar com uma pessoa estudante de misticismo ou adepta do hinduísmo, por exemplo, que tenha que provar que não está incorrendo no crime previsto no artigo 20, § 1º da Lei Caó, que proibiu a fabricação, comercialização, distribuição e veiculação de símbolos que utilizam a cruz gamada ou suástica para fins de divulgação do nazismo. Infelizmente, o ser humano que tem tanto potencial para criar, por questões socioeconômicas ou ainda mesmo morais, pervertem aquilo que é sagrado, como prova maior de que está desconectado, dividido, que precisa ser restaurado e reintegrado a algo superior que justifique a sua existência nesse plano. 

Laura Berquó
Professora, advogada e militante de Direitos Humanos

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