domingo, 9 de outubro de 2016

A MODERNIZAÇÃO DA CAPITAL PASSOU POR CIMA DA HISTÓRIA NEGRA EM JOÃO PESSOA




Onde atualmente é o Viaduto Damasio Franca e o Ponto de Cem Réis

Mistérios e Ironia do Destino: Acho horrível demolir Igrejas, só se for pra construir outra no lugar. Vários casos me chamam a atenção:  demolição da Igreja das Mercês para a criação da Praça 1817 e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (frequentada por negros escravos), sendo que esta última foi destruída para a construção do Ponto de Cém Réis. Mas me chama a atenção também a demolição da Igreja de Nossa Senhora da Conceição por determinação do então Presidente da Paraíba João Pessoa, que reclamava que a Igreja dificultava a circulação do ar lá para as bandas do Palácio da Redenção. Por ironia, logo depois foi assassinado e hoje seu corpo ocupa aquele espaço em um mausoléu sem direito à ventilação.
Matteo Ciacchi, nos traz uma reflexão interessante: “o presidente João Pessoa tinha um descaso medonho em relação ao patrimônio histórico. Acho uma carga muito negativa pra cidade o fato de que ele tenha bancado a demolição de tantos espaços públicos e monumentos históricos, tenha dado nome à cidade e ainda transformado os escombros de um desses patrimônios no túmulo dele. O problema da Paraíba é ainda dar crédito a João Pessoa (e aos seus equivalentes atuais)”. Também foi Matteo que nos conseguiu a foto da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, demolida para a construção da Praça Vidal de Negreiros (Ponto de Cém Réis)  e informa que “essa é a única foto que eu já vi que mostra a igreja (à direita, ficava bem na subida onde hoje é o viaduto, antigamente era a ladeira do Rosário). O nome de Ponto de Cem réis vem de quando implantaram os bondes de tração animal, e a frente da igreja era a integração: quem fosse continuar no bonde tinha que pagar cem réis.”
Eu, particularmente tinha uma imagem positiva do Prefeito Walfredo Guedes Pereira antes de tomar conhecimento dessas demolições e completa Ciacchi quando o questiono sobre o porquê esses gestores a exemplo de Walfredo e João Pessoa terem gozado de boa imagem apesar de destruírem o patrimônio histórico: “Eu acho que a imagem positiva de Walfredo é devida ao discurso de modernização dos anos 20 e 30, que desfiguraram muita coisa no centro. O que se fala é que na gestão dele a cidade virou um canteiro de obras. Pra população na época, em que a cidade praticamente se resumia ao centro histórico de hoje, devem ter aparecido melhorias de infraestrutura realmente positivas. Mas pra mim a prova de que era muita retórica e pouco benefício real é o fato de que cem anos depois o saldo final foi um centro sem infraestrutura nenhuma, atravessado por "obras de mobilidade" que não ajudam em nada e um patrimônio histórico plenamente esquecido. Acho que é interessante fazer um estudo comparativo da gestão de Walfredo Guedes e de Beaurepaire Rohan. Walfredo era de família de senhores de engenho de Bananeiras, Beaurepaire era governador "profissional", técnico. Sei que a gestão de B. Rohan foi bem "modernizante", mas pautada em diversos estudos técnicos únicos em relação ao que tinha sido feito antes e ao que foi feito depois. Não sei até que ponto eu também possa estar comprando uma imagem feita de B. Rohan, mas vale a investigação.”

Sobre a sugestão de Matteo, creio que não dá para “compararmos” porque Henrique de B. Rohan foi presidente da Província da Parahyba entre 1857-1859 enquanto Walfredo Guedes Pereira foi prefeito da capital paraibana. Sobre B. Rohan, particularmente Rohan  li dois autores que fazem maiores referências a ele. Esses autores são José Américo de Almeida (A Paraíba e Seus Problemas) ao informar que o B. Rohan ao se preocupar em fazer o estudo corográfico da Província trouxe para cá o francês Jacques Brunet para esta tarefa, mas que segundo Almeida, a maior realização foi a descoberta do então menino de 10 anos e futuro pintor Pedro Américo e li também em José Baptista de Mello quando escreveu sobre a  História do Ensino na Paraíba, informa que B. Rohan se preocupou com o ensino técnico na Paraíba e que foi criado por B. Rohan para atender meninos carentes e profissionalizá-los para serviços agrários. Para isso criou o primeiro Jardim Botânico que ia da atual B. Rohan até o Palácio da Redenção (na verdade até a rua Marques de Herval atual General Osório) e para isso desapropriou vários sítios existentes.
Giovanni Seabra em seu livro “Paraíba” nos informa que em 1923 a Igreja de Nossa Senhora do Rosário Homens Pretos começou a ser demolida para a construção da Praça Vidal de Negreiros.  Além da Igreja, foram demolidos 02 edifícios e 12 casas. Ainda informa que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário começou a ser construída em fins do século XVII e foi concluída em meados do século XVIII.

Laura Berquó


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